segunda-feira, 22 de abril de 2013

Do Sublime ao Trágico..à Schiller!

Vivo de Desesperança

(Des)espero/intemperança

Espero sentado.
Espero ser amado.
Espero desesperado.

Como o faminto

-artista da fome-

..que ao cabo
só quer mesmo
encher a pança..

Come o glutão.

Como as palavras.

E as palavras
me consomem.

Se multiplicam.

Me dividem.

Da dúvida
Eu o idem.

Dormi monstro.
Acordei homem.

Falso ego saiu
volta já + cedo
ou mais tarde..

Estamos em
inconteste
mudança.

A vida
só um teste.

flerte°blefe

O poema
era pra ser
sublime

Mas perdeu a
esperança.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Amolador de Facas- 2ª Parte-


Sei que foi, ao que me lembre, mais ou menos assim:

Anos antes, não se sabe ou não se quer saber, exatamente quando, provavelmente antes de existirem Yakults ou até mesmo antes de existirem vendedores ambulantes, antes desta lista non-sense passar pela minha cabeça, existiam os Amoladores De Facas..

E antes dos Amoladores De Faca, antes quem sabe até mesmo das próprias facas..
Existiam os ciganos e seus circos com seus atiradores de faca
(neste caso, já depois da invenção da faca.)

E não foi nesta capital nem em nenhuma de que se tenha registro, quando ainda talvez nem fosse tão capital assim, seja lá qual fosse tal capital..que ocorreram os terríveis crimes, estes sim capitais, envolvendo nosso nono personagem, o último dos escolhidos, o nono cavaleiro de uma cruzada infernal, uma cruzada através da alma se é que há uma, de um homem, de um cigano- judeu- homossexual- afro descendente- brasileiro e assassino! que atendia e atuava sob a alcunha de Moisés De Jesus, o Gilete!

Peregrino de um caminho tortuoso nosso ‘herói’, assassino já nascera, além da extensa lista de predicados acima desfilada, um verdadeiro assassino, pois matara já no parto, a própria mãe quilombola gorda e bonita, que parecia que iria parir um porco, mas que apesar da pouca diferença entre o um e o outro nascera, ele.

O Pai um judeu holandês, reminiscente das poucas famílias que se arriscaram por estas plagas depois da retomada do recife pelos portugueses; esta sendo sua ancestralidade, dizia ele.

O Gosto pelo homossexualismo desenvolveu no exército onde serviu e de onde se serviram dele cabos, oficiais, sargentos e extensa patente.


Do mesmo Recife de que fora expelido, fugira do Pai, do exército e da Paróquia, cujo Padre, devido a um enraizado sentimento de racismo, dele nunca almejou mais do que alguns serviços de limpeza e conservação paroquiais.

Passava na ocasião pela sua cidade, se é que um afro descendente meio judeu tem alguma cidade pra chamar de sua..um circo esquisito e misterioso, como todo bom circo deve ser, daqueles que não existem mais. Pequenos, mas completos, com exceção à época, de um atirador de facas que morrera recentemente, deixando sua bela assistente e sua horrível trupe em situação complicada, dada a importância de tal número em um tão pequeno circo, que a míngua de artistas do calão penava por não conseguir ninguém para substituí-lo.

Nosso herói-assassino não pensando duas vezes e tendo sido no exército um exíminio; Maricas, e manipulador de armas brancas, pode-se dizer que começou a carreira engolindo espadas..tendo chegado a receber distinções na arte, embarcou com a trupe e nunca mais se ouviu falar dele como tal era, no exército ou em sua cidade natal.

Agora também desertor! devemos acrescentar à lista de suas máscaras sociais, fato que serve apenas como curiosidade mórbida, uma vez que tal monstro não merece sequer um nome que sua mãe lhe deu, perdão ou tampouco explicação.

Como nem Moisés nem Jesus tem nada a ver com tão hediondo ser, em obras e em brio.. e para aplacar nossa ira, que ainda é só minha, uma vez que ainda desconhecem a totalidade e profundidade das atrocidades por este perpetradas, vamos chama-lo doravante apenas pelo apelido com que ficou conhecido: O Gilete ou apenas Gilete se preferirem.

Pode-se dizer não ter sido mais do uma questão de tempo, e de pouco tempo, para que se adequasse as exigências artísticas que a sua nova profissão requeria, uma vez que o caráter e o ‘tropismo ancestral para o infortúnio’, este ele já os possuía.


O circo por sua vez era comandado por um único homem, um cigano de origem romena que atendia pelo nome de Júnior Miklus, o último de sua descendência, uma vez que não se casara e não tivera filhos. Seu pai e avô já haviam nascido no Brasil, o que para um cigano não faz a menor diferença, apesar de e de qualquer forma ser um puta de uma azar..

Enfim, aqui nasceram e aqui ficaram.

O Pai carreteiro de profissão, judeu antes de mais nada, ganhou uma pequena fortuna comprando e vendendo charretes e animais, em sua grande maioria e a princípio cavalos e bois para puxarem as charretes, depois outros de maior porte e valor, como elefantes, tigres, focas, camelos e leões para zoológicos e circos, daí a origem dos carros e animais que viriam a ser o cerne constituinte de seu próprio circo, pois quando da morte de seu pai sem saber o que fazer com toda aquela profusão de carroças, charretes, carruagens, vagões, traillers, cavalos, elefantes, tigres..sendo um prático e um preguiçoso, começou a considerar o que lhe parecia evidente e mais adequado no momento; além de uma propensão digamos natural ao perpétuo abandono de seu corpo em cavalgada..debandada sem parada..que seria, lhe pareceu o de montar seu próprio circo: Miklus Circus!

Ele já conhecia alguns artistas de rua, seu avô havia sido bufão nas cortes e talvez não por coincidência tinha tido sua primeira experiência sexual com uma mulher barbada, Bárbara, a Barata Barbada. Bárbaro, não?

..Aos poucos foram se formando os quadros de artistas, surgiram dali a pouco os irmãos siameses, Simão e Sebastião, a trupe dos trapezistas, duas duplas formadas por dois amigos que eram pro sua vez inimigos dos outros dois amigos da outra dupla..o que garantira uma precisão e voracidade nos espetáculos que para Miklus que sabia e para o público que não sabiam..eram indiferentes..haviam , é claro se agregado ao grupo dois doidos depois Palhaços, os Srs: Muquifu e seu assistente Mequetrefe..sete foram os anões qual coincidência..de uma mesma família e que se apresentavam pelos simples numéricos correspondentes, sendo portanto: O1, O2, O3.. fazendo-os de nomes artísticos, sendo O1 o mais velho e A7 a mais velha, havia ainda, é claro; o homem tatuado: Guaraci Merlhieg, que tinha o mapa do Brasil desenhado da cabeça aos pés, ao pé da letra e ao pé dele mesmo, este fazia enorme sucesso entre a molecada, que por sua vez só não tinham acesso visual as partes mais escondidas e distantes do país que ficavam por decoro inacessíveis ao público.. E é claro o falecido atirador de facas Monsieur Couteau cigano judeu francês cuja família viera pro recife na época de Maurício de Nassau e que por recife mesmo fixaram residência e findaram..também último de sua linhagem, assim como o próprio Miklus, que fazia ainda e além de proprietário, as vezes de apresentador, carregador, montador, cobrador e o que mais viesse a ser preciso. Miklus era um canalha preciso.

Dentre vários outros animais, serviçais e profissionais que foram se carrapatando a trupe, houve é claro e mister lembrar; o nosso ‘herói’, que no dia em que apareceu no circo, desapareceu na cidade..Ocupando com cara, facas e coragem o lugar do antigo atirador.

(Agora entram algo parecido com letreiros..dizendo algo do tipo..
..Alguns anos depois..)

Após anos de serviço emprestado ou prestado, imprestável ou não a Miklus e a si mesmo, já tendo percorrido os mundos e fundos de por aí, por aqui e por acolá..o Gilete, poderíamos dizer..num surto de humor negro, o que aqui no caso é mais que perfeitamente cabível, pra não dizer bem vindo e num espasmo de extremo mau gosto e maldade; dizer que..ele emperrou!

Perdera a mobilidade parcial da mão com que atirava mais precisa e fortemente suas suntuosas facas, perdera com isso o seu ponto de equilíbrio, dizia, pois esta se atrofiara de tal arte e em macabra dança de nervos e tecidos..Genética ruim ou talvez o escorbuto, muito comum não só entre piratas, corsários e lobos do mar em geral, mas também nas trupes de teatro, circo, de ciganos e etc..que rondavam-vagavam pelo mundo desde que o mundo veio a ser mundo..inválido para o circo, nem tão velho, nem tão novo..o que fazer?


A situação pegou a todos de surpresa, evidentemente, e além de passarem a comprar laranjas e limões em maior quantidade..puseram-se ele e Miklus, particularmente a pesar os fatos e pensar nas conseqüências e preços deste capricho da natureza, força do destino ou fraqueza do intestino..E posto que depois de muito deliberar, essa palavra é minha, pois digamos que ele pensaria que ao máximo teria..muito refletido! o que já era o bastante.. Miklus surgiu com uma idéia promissora, eu diria promissória..tire suas próprias conclusões..enfim e mais uma vez ele salvara Gilete!?..

Agora com a sugestão insistente, paternal e por todos muito bem vista, de que ele poderia se tornar um simples, servil e honesto: Amolador de facas!

Solução deveras genial, diga-se de passagem, solução que lhe permitiria continuar a trabalhar para o próprio circo nas cidades em que excursionassem garantido seu sustento e sua validade produtiva no seio de sua família de coração e de alma!

Dada sua habilidade com facas ficaria com aquilo como sua melhor alternativa...

Mas o destino tanto do fraco quanto do forte antes de tecer teias, produz aranhas e o de uns é daquelas grandes, viscosas, venenosas..

O Gilete de agora em diante só apontava suas facas para o centro do carrinho de amolar..
..não sei se todos aqui neste texto presentes hão de se lembrar de tal carrinho..ele se parece com um tipo de ‘cefadeira’, com uma única roda, uma grande lima ao centro impulsionada por essa mesma roda..é de ferro com duas alças em forma de v, visto de via aérea..e que amola tesouras, alicates, machados, foices, cortadores de grama, cortadores de cabeças..e até cortadores de unha! isso no caso daqueles profissionais que detinham uma técnica mais apurada ou quiçá algum dom divino ou artístico, não faço idéia...sei que este não era um destes..

Depois de outros mais não se sabe quantos, mas muitos anos de serviços imprestáveis.. deu nosso desafortunado ‘herói’, agora meio maneta, é bom lembrar, com e pelas contas de que suas contas com o circo, haviam e vinham em muito aumentando na razão inversa de seus ganhos, uma vez que agora como simples amolador de facas, ainda que sob a ‘égide-ajuda’ de Miklus, pois este que lhe concedera as beneces de poder continuar a ter seu própria casa-charrete a comer como e com todos os demais artistas e até com o próprio Miklus! isto sim, talvez poderia ser tido como azar..pois tudo parecia ir bem não fosse o malfadado, execrível e esconjurado dia em que veio a ouvir do próprio patrão que a hora do acerto chegara!..tendo-o chamado logo cedo numa manhã fria e chuvosa para lhe propor uma alternativa, uma espécie de troca de suas dívidas por mais serviços, serviços estes que cobririam suas custas aqui, no céu ou no inferno, que era por fim o destino de suas chances e almas..

A proposta feita era : ’ Moisés De Jesus, que sendo tudo o que já foi e tudo o que jamais virá a ser e que tendo escolhido esta vida que tem e que agora é minha, pois agora me deve em espécie e em espectro..A você tão somente! ofereço a chance de redimir-te de sua existência podre com a única a saída para tanto: mais podridão..abrir de vez teus caminhos para o reino do absoluto que, sabes, é de onde veio, e para onde voltarás..volta ao menos com honras, volta com o mesmo sangue com que nasceste..o sangue de crianças..Sim, crianças para sacrifício!..Que beleza e pureza maior que acabar com o sofrimento da vida ainda em seu nascedouro..Somos Bons..”Só faltou dizer junte-se aos bons..!?Gilete mesmo que de pouca fé, quase nenhum coração, sentimento de família ou justiça, exitou e saltou entre assustado e enojado. Todavia bêbedo de ignorância, rancor e dívidas considerou paulatinamente cada palavra que Miklus ousou continuar a lhe dizer ..as ‘hediondices’ que propôs..escutando meio parvo, meio excitado, ponderou por dias aquelas propostas sem sentido, amorais e inumanas..aquilo tudo ficou soando ressoando igual, exata e morbidamente igual, ao barulho da lima ao amolar a faca..tchein!tchein!tchein!tchein!tchein!tchein!..entretanto tamanha sua angustia, desespero e por que não dizer falta de amor a vida, acabou por aceitar..

Dalí em diante, uma vez vendida a alma e se mudado de vez para o inferno.. passou a selecionar em todas cidades e vilas em que se apresentavam, em cada casa que visitava; uma por vezes duas crianças, que deveriam ter algumas características que os rituais executados exigiam..

..Cada ‘amolada’ paga era convertida em entradas para o espetáculo, e durante as apresentações Gilete já conhecido das crianças as levavam com a promessa de uma pipoca doce ou uma maça do amor..

Na verdade a única característica “exigida’ era a de que fossem meninas brancas..

Talvez fosse o preço que o ódio racial de um cigano-judeu sempre escoraçado e de um afro descendente ex-escravizado? inconscientemente cobrassem..

Este que vos conta o conto e que é o narrador-orador dessa narrativa meio fantástica meio fantasmagórica, ouviu esta estória pela boca do próprio amolador.. estória pela esmagadora maioria felizmente desconhecida, misto de lenda urbana e cigana.. ainda assim alguns detalhes de ordem ritualísticas permanecem inexplicáveis uma vez que não são de meu conhecimento pleno, nem queria que fossem, pois acreditem já tenho minhas próprias dificuldades em lhe dar com tudo isso, em dormir a noite, em freqüentar circos, em amolar facas..

Entretanto uma questão me saltou aos olhos, e era a do porque meninas?!Brancas!?

Algo ligado as origens Romenas, quiça vampirescas de Miklus, sangue de virgens, rejuvenescimento, pacto com demônio ou qualquer uma dessas baboseiras folclóricas e excitantes que ouvimos por gerações a respeito desse tipo de ritual..dessa espécie de morto vivo, de demônio..

Todavia, fácil simples e direta resposta obtive:

“Para que nasçam cada vez menos gente nesse mundo maldito!“..e porque os brancos merecem..

Nestes pontos ousei com ele concordar..mundo maldito..brancos assassinos..


Dito isso desejo tão somente retratar o que passou a ser a vida deste agora amolador de facas que ao indicar a casa e a criança a ser seqüestrada e depois levada para o interior, centro nevral do carro maior, daquele circo menor em tamanho e compaixão, círco macabro, circo do diabo, circo dos horrores que deve ser odiado por todos que tenham qualquer coisa, mesmo que vaga ou indefinida entre seus crânios e cérebros, uma matéria imaterial que todos possuem, mas nem todos reconhecem: uma alma !?


Com suas inúmeras tesouras, facas e alicates eles dissecavam, torturavam, estripavam, deformavam e esquartejavam suas pequenas vítimas entorpecidas com os doces envenenados e que tinham seus já fracos gritos abafados por fortes músicas ciganas que tocavam em perfeita harmonia com aquelas vozinhas que iam ficavando cada vez mais e mais inaudíveis no torpor das frias noites de ventos sibilantes que levavam enfim; vozes e espíritos..

Seus restos eram dados aos leões e misturados ao fortíssimo e eterno cheiro de cocô de elefante, de gente fedida e dos demais animais em geral, se tornavam uma mistura de odores malditamente perfeita e que punha fim a qualquer vestígio ou suspeita.

Dizem que depois que se sente cheiro de morte não se sente mais cheiro de vida..

Perguntaríamo-nos nós seres secientes o por que, os porquês disso, o que leva pessoas de sensibilidade artística a executarem tais atos..Se existe um D´us , ou um demônio que induz tais pessoas a tais atos, se o estado mental induzido pela magia é explicação para a falta de compaixão, se a fé é cega e se a justiça é mesmo divina neste mundo terreno, e até mesmo se existe uma justiça para os sádicos e outra para os sábios?

E mais: Se esse D´us existe, porque nunca faz nada!?!

Hoje passados alguns anos da primeira vez que tive contato com Gilete nesta rua deste bairro onde comecei a escrever este, ainda me arrepio em pensar de porque fui entre tantos, o escolhido para ser o portador dessa doente história para aqueles que por ela se interessar possam..é verdade que a época eu morava e trabalhava em um açougue nesta rua, como disse, com isso já tinha minhas próprias mortes a carregar na alma e fazia uso com grande freqüência de seus serviços, ocorre que por fim por mim ele se afeiçoou, num misto de atração sexual, culpa ou sei lá o quê.


Fato é que num começo de noite da última noite de um ano qualquer, ambos em fim de serviço e já embriagados por algumas cachaças a mais, ele me contou tudo o que por minha vez lhes contei, em um tom de confisão..Fiquei atônito sem saber o que dizer ou pensar e é claro pensei num primeiro momento que se tratava de invenção, excesso de criatividade, de cachaça ou loucura pura..ocorre que daquele dia, e ano em diante nunca mais o vi ou tive dele notícias.

É claro que avisei a polícia recontei-lhes toda a história, passei por doido, mentiroso, chegando a ser preso como cúmplice, mas como não haviam provas de nada, tão pouco do que lhes contara, e por minha ficha criminal não incluir seres de nossa espécie, fui liberado e vigiado pela polícia que nunca mais confiou plenamente na minha índole, e tão pouco na procedência dos produtos que vendia..


Toda vez que ouço ou vejo um amolador de facas, ou um desses ambulantes, me vem a mente toda essa estranha história da qual me desculpo por haver com vocês leitores; compartilhado.

E é essa a origem, quero acreditar de minha impaciência e porque não dizer desconfiança em relação a estes profissionais, penso ainda que tenha escrito este para não morrer com esta história atravancando meu sonhos..passados ou futuros..


Feliz Adversário!

Envelheci..
Ié tanta
tristesa

Que posso
afrimar:

Não caberia
Aqui.

Se Poesia Fosse Arte.

Palavras são como uma tela em branco.
canvas cansado,suporte do pensamento.

-insuportável pensar-

Pigmento depois de atirado
contra o algodão..fixado..

Palavras lançadas/Não são bumerangue
Palavras cansadas/Teem gosto de sangue.

Bem me quer/Mal me quero.

Escrevo só por
não mais poder
chorar.

Escrevo
Sofro
Choro

Sinto o mal

E/Ou
Sou eu mau!?

Enfim
Sem fim

Sinto o mal

Até na hiperderme
do poro.

Retiro Espiritual.

Atiro pro alto
e o tiro

rasga o concreto.
-asfalto-

Atiro no pé
e o tiro

acerta o abstrato
-indefinido porque infinito-

De fato
Os fatos
São atos

E não dão seta

Nunca se sabe
Pra que lado irão

Contra quem
se virarão

Se se quer
Sequer parábola
ou linha reta

Atiro na poesia
e o tiro

Nem sequer
-ou se não quer-

Mancha o papel..

Previsão Do Tempo.

Céu
escuro

Encoberto
só por
nuvens

Não
consigo
enxergar

Nenhum
Futuro.

Cortiço.

Morei num
cortiço.

-curto período-

Nunca temi
o perigo,

O perigo
que se meta
comigo!

Entretanto(s)

Lhes digo:

Não Corti Ço!?

Estado de Sítio.

Um policial
Solitário

Atravessava
A rua

Cabisbaixo

Também não
me parecia

Feliz.

MAL/E(s)TA(r)

Só gente
Cool.

Só gente
bonita.

..o lugar
estava tão
vazio, que
parecia não
existir..

Ópera de Sabão!

De dentro
do carrão

blindando|importado

Que passava

(Crendo se defender
do que não lhe
defendia o estado)

Por uma
pequena
fresta

A criança

-da qual só
se via a testa-

Atirava zombeteira
sobre a rua

Na poeira

Com sua
metralhadora

De bolhas
De sabão..

Obséqui(t)o.

Não fui feito
pro amor.

Bem como
-ou melhor mal-
Não fui feito
pra dor.

Se alguém
desconfiar

Pra quê
fui feito

Explique-me
por-favor.

Não Faça Amor Faça Guerra!

A noite cai
na cidade.

Então,
Me levanto!

Grande
Voracidade.

Com embargo
seguro
o pranto.

Se não
desprezo
tudo.

Com toda
verdade

-possível-

Odeio-te
Ó Mundo!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Amolador de Facas - 1ª Parte-




Verdade é que nunca fui exatamente um sincero apreciador de cultura popular, e ao contrário de meu pai , que se emocionava verdadeiramente consigo no máximo respeitar suas manifestações e chego a gostar de algumas cores ou ritmos, não sendo portanto um completo desafeito ou desafeto como queiram, de suas legítimas representações.

O caso é que daí a aceitar, ou melhor, suportar aqueles, graças ao céus, cada vez mais raros, vendedores ambulantes que circulam pelos bairros ofertando com sua ladainha os mais diversos produtos, é outra estória..

Me dei conta de que tais situações ocorrem em maior profusão e com maior euforia em bairros de menor poder aquisitivo e em uma razão diretamente proporcional a esta, este ou isto.

Ainda não me ocorreu de vir a me locar em algum aglomerado, é verdade, com isto não poderia enumerar ou detalhar quais dentre estes profissionais usualmente podemos nos deparar nas vilas e favelas de nossas cidades. Certo é de que estão lá representados em gênero, número e grau..

Entretanto e em meio aos percalços de minha; já nem tão curta existência, tive a oportunidade, e fui do prazer a agonia, de habitar; pernoitar; alugar; ocupar; dividir; dever..passar por um número quase infinito de bairros, ruas, ruelas, vielas e quebradas desta cidade, e não só desta cidade, qual seja ela, uma vez que a história que pretendo aqui contar poderia ter se passado em qualquer cidade..tive ainda com o acúmulo destas variadas e variáveis experiências a insatisfação de contabilizar um número bastante expressivo de tais profissionais isso sem contar os carros de som, verdadeiros arautos do inferno suburbano que propagandeiam e protagonizam, enquanto o cidadão agoniza, desde o sacolão e suas imperdíveis ofertas até a programação do bailão ou aquele recadinho de bom gosto para sua vizinha aniversariante..

Certa feita, então nas alturas de uma ruazinha chinfrim de uma esquina suspeita em que morei e trabalhei contei-os e categorizei-os em número de nove diferentes classes: O primeiro, em todos os sentidos, era se não nosso eterno amigo Padeiro! daqueles com uma bicicleta barra forte, um cestão de palha na frente e outro menor atrás, uma irritante buzina que lhe dá bom dia antes do dia sequer começar a ficar bom ou não, eles são geralmente são magros e orelhudos, o por que disto não consegui verificar.

Seguido pelo padeiro vem o menos vespertino, entretanto também diário, caminhão do gás que em verdade muito freqüentemente não passa de algum Fiat 147 cortado com um alto falante comprado em algum topa tudo e parafusado ou na fuselagem, ou naqueles suportes pretos supostamente projetados como maleiro ou qualquer coisa que o não valha.

Logo em seguida e não menos freqüentemente; o amado ’carro do sorvete’, que para minha surpresa já vi em versão bicicleta, triciclo e carrinho de mão! sendo o preferido e mais comumente utilizado, a versão carrinho de sorvete mesmo..daqueles quadrados que não sei porque diachos sempre me remete a aqueles pedalins de parques municipais..

Existe ainda uma versão ‘mais moderna‘, pós Ford T..Talvez a única que oficialmente pudesse usar a alcunha; carro do sorvete, uma vez que os empreendedores deste lucrativo ramo no intuito de cobrir e vender mais e mais rápido, um quase tunning , adaptam suas variants e brasílias, via de regra, deve existir inclusive uma explicação lógica para tal, uma vez que nunca vi um Fiat 147 vendendo sorvete, ou uma variant vendendo gás..ou vice versa..e as transformam em verdadeiros oásis de frescor no calor do verão suburbano..onde geralmente a chapa já é..quente por ‘natureza’..

Prosseguindo em nossa contagem, gostaria de citar um velhinho que aparentemente transformara um carrinho de pipoca?! em uma doceria ambulante e percorria o tal bairro com seu carrinho de doce, anunciado por um apito irritante e ensurdecedor, que a ele já ensurdecera a uns vinte ou trinta anos atrás, que além de ensurdecer a adultos e crianças espalhava cáries por onde passava..e por falar em cárie, não devemos nos esquecer de acrescentar em nossa contabilidade folclórico-urbana- da pessoa do vendedor de biju! Sim, aqueles canudos sem graça e sem gosto que hoje são ainda raramente vistos nos sinais e que até bem pouco tempo se aventuravam pelos bairros das cidades fazendo com suas ‘claquetes’ um verdadeiro samba, capaz de deixar qualquer um doido, e não só os crioulos!

Passavam ainda na tal rua, e destes só me lembro de anteriormente havê-los visto em bairros ainda muito mais simples do que este, ainda que também extremamente simples o fosse este em que na ocasião me (des)encontrava. São uns caras com uma espécie de charrete de ferro híbrida de bicicleta, que porra era aquela afinal? Enfim..com a diferença de ser um tipo invertido, pois a traseira ficava na frente e o condutor, ou empurrador, depende, ficava atrás, podendo é claro inverter a ordem caso precisasse subir no meio fio, passar por quebra molas ou buracos..tais profissionais se ocupavam da venda, neste concorrido mercado de artigos de primeira grandeza e necessidade, de artigos tais como; vasos de planta; de plástico, plantas de plástico, capas de DVD; de plástico, de máquina de lavar, de microondas, de liquidificador; todas de plástico, de rodinhas para fogão; de plástico, suportes para botijão; de plástico, relógios de parede; de plástico, com o sagrado coração de Jesus..sapateiros de couro, cintos de couro, carteiras de couro, chapéus de couro, colchas, redes, tapetes, almofadas, tábuas de passar, filtros de barro e uma série de etc´ssss, tão etc´sss e tão na medida da necessidade do cliente que poderíamos ficar aqui por horas enumerando e alternando os possíveis tipos de produtos..não sendo raro a ocorrência de peculiaridades características das diversas regiões dos mais variados subúrbios do país, em razão direta e proporcional aos diferentes e correlacionais tipos de contingentes populacionais específicos, de acordo com o substrato migratório a que pertençam, imaginando novamente que poderíamos graças a esta rica diversidade cultural de nossa nação pensarmos numa versão quilombola ou rural destes empreendedores, onde os tais estariam vendendo seus produtos, vi isto ocorrer no nordeste do país, em charretes verdadeiras, ou lombo de burros..verdadeiros.



Putz, viajei tanto que perdi a conta de quantos ambulantes contabilizamos até o momento..!?

Foram, salvo engano e de trás pra frente: O carreteiro, vamos assim chamá-lo, O eterno vendedor de biju, O doceiro, O sorveteiro, O caminhão do gás e O padeiro. Quantos deram então até aqui?..um mais são dois, tem o terceiro, acrescenta outro, trepa um mais um..Seis! considerando que cada um passa em média umas três vezes por dia, temos 6 repetido três vezes..6 6 6 ??? ZéZuZ..!!!

Aleluia irmãos tudo começa a fazer sentido! Entretanto todavia contudo..me pergunto como conseguirei concluir a enumeração plena, justa e coerente de todos os nove tipos, dos nossos nove ‘heróis’ escolhidos, resistentes representantes reprodutores do sub-comércio, da orgulhosa cultura de bairro suburbana latino americana, do resto do que os Cdl´s esqueceram de fora de seus shoppings centers, seus malls (Leia-se Maus..Ruins, perversos e perniciosos comércios elitistas, e segregacionistas.)..é verdade que hoje temos os shopps populares, mas daí é um negócio que está mais para camelância e tal..

Mas meu medo mortal e maior é de como terei a audácia, a coragem, com qual pretexto irei contar, como poderei descrever a história do nono, a quem farei jus a quem magoarei, como e porque contar história; do Amolador De Facas..?

Escolhi o número de nove por ser este um número místico cabalístico..não que eu seja exatamente um místico ou jamais tenha tido um caballo..ou mesmo, dê grandes importâncias ao que consideram e dizem, os de plantão..

Por isso o nono tinha que ser ele, não poderia ser ninguém que não o amolador..

De todo, persistindo em nossa contagem urbano-social-coloquial, paro e penso quem colocar no sétimo lugar desta lista?

Um legítímo e tradicional ambulante como viemos classificando, ou a última geração em termos de profissionais desta área de ’Ambulância’, sem querer forçar a neologia.

(Curioso notar a propósito que dos um ano e poucos que ali residi, não ouvi ou vi sequer uma ambulância.. pobre ou está morto ou está vivo, mais prático, rápido e barato. Afinal não dá tempo de adoecer, isso é um luxo de rico.)

Findado o dilema e firmada a pena, com decisão inequívoca e espírito pelo éter renovado faço saber a quem interessar possa a ordem que se estabeleceu:

1- Padeiro.

2-Caminhão do Gás.

3-Sorveteiro.

4-Doceiro.

5-Vendedor de Bijú.

6-Carreteiro.

7- O carrinho de Yakult!

8-O carro da pamonha!!


E o número 9, ele; O Amolador De Facas!!!


Explico, se me permitem, como cheguei a tão difícil conclusão no tocante a cruel questão que me assaltou na hora da escolha do sétimo e do oitavos lugares.

Antes que os mais puristas cheguem com suas pesadas réguas e julgamentos reconhecidos em cartório, entrego minha tábua de salvação e explico-me defendendo-me se preciso for do argumento fácil de que os carrinhos de Yakult não seriam representantes da verdadeira cultura da ’ambulância’!?..digo ao contrário e a pleno furor de meus pulmões que não!Ops, digo: que sim!, ainda que audaciosos ultrapassem as fronteiras sociais, nada invisíveis de nossas organizações urbanas, ao se lançarem na aventura de explorar, numa inversão-ataque aos valores burgueses estetizantes e extasiantes de bairros de níveis sociais altos, algo até então impensável ou inatingível! Até porque as brasílias, variants e Fiat´s 147 não conseguem chegar tão longe, fisicamente falando mesmo..

Por tudo isso em meu entender os carrinhos de Yakult são as novas bigas! e seus condutores- empreendedores, estertores de uma nova ordem mundial no mundinho destes profissionais, personificando não só o futuro, plastificado hermeticamente nas embalagens de seus produtos, mas preconizando a modernidade dentro da pós modernidade!?

Por ‘fim‘, em oitavo, mas não por menos, os eternos, bucólicos e amados por gerações; Carros Da Pamonha!

Como não comê-las, como; até a palavra come..como não sentir o cheiro adocicado quase romântico daquela mistura tão brasileira do verde, da palha entumecida com o amarelo do milho fresco e cremoso..

Puxa vida! Se não o mais tradicional dos heróis desta lista, sem demérito do nosso querido padeiro que todos os dias as 5 e pouco da madruga nos surpreende com sua buzina-sanfona criminosa e atonal e seu pão já tão incrivelmente frio..se não o mais tradicional, certamente menos incômodo..

Chegando ao fim desta lista chego também ao fim de minhas forças e ao recomeço de meu incômodo maior; o de encontrar as palavras corretas e a força necessária para escrever o que me propus a descrever, mas que e ainda não pude fazê-lo..


A terrível, temível e inigualável estória do nosso último personagem, estória que tem vida própria, e quantas vidas eu tivesse em todas elas eu a temeria!..Estremeço esmoreço e me delongo, como já devem com razão terem pensado, por não conseguir encontrar os meios ou mesmo as palavras para descrever os horrores que ouvi, a emoção aperta e treme a pena!

Por inúmeras vezes, e entre vários copos, depois de inúmeras drogas legais e ilegais, entre traficantes, psiquiatras e alguns padres, me pegava pensando naquela estória, talvez a raiz de minha profunda antipatia pelas pessoas-profissionais ou não, honestos ou não, barulhentos ou silenciosos.. vendedores ambulantes! mesmo quando parados, vivos ou mortos?

Lhes antecipo minhas desculpas, pois ainda hoje me descontrolo quando lembro de tudo que ouvi, do que acho que ouvi, do que entendi e do que acreditei.. Por vezes chego a não ter mais sequer a certeza de que se o que vivi, a estória que ouvi, a situação como um todo, como um nada..foi verdade ou foi um terrível pesadelo pra mim e sobretudo para aquelas crianças..

FIM DA PRIMEIRA PARTE-