quinta-feira, 6 de junho de 2013

Augusto & Rimbaud- cópia deinsegurança!

Guilherme Fernandes Garcia








Jovens, gênios & bestas: precocidade e bestialogia em Augusto dos Anjos e Arthur Rimbaud.
Belo Horizonte- 2013
“A Poesia dos insanos ofusca a dos sensatos” -Platão, Fédon.

1- À Guisa de intuição-

Ao Introduzirmos nos campos de estudo de literatura comparada esta monografia que tem por finalidade estudar as questões da bestialogia e da precocidade nas formações das poéticas de Augusto dos Anjos(1884-1914) e de Arthur Rimbaud(1854-1891). A partir do entendimento de que criações elaboradas por poetas muito jovens, em formação de caráter, ambos tendo começado a escrever muito cedo, ainda na infância, e escrito a maioria de suas mais importantes peças sem sequer haver atingido a maioridade, ou pouco mais que isso.E lê-los sob a ótica da poesia bestialógica que como quis Massaud Moisés:

“A poesia bestialógica ou pantagruélica, jorrando das profundezas do subconsciente ainda mal desperto, se destinava ao riso inconseqüentemente estúrdio e as fugas sem retorno.” (História da literatura Brasileira pág 139)

Veremos nos conceitos que guiaram a formulação do trabalho, os de Precocidade e de Bestialogia, que definem-se por:

a)Precocidade: característica ou estado do que é precoce.

b)Precoce: 1- que frutifica ou amadurece antes do tempo normal ou antes dos demais; temporão 2- que acontece muito cedo para os padrões normais, prematuro, antecipado, extemporâneo 3- que muito cedo demonstra capacidades ou habilidades próprias de crianças mais velhas ou de adultos. (Houaiss, pag. 2282)

c)Bestialogia: ato ou capacidade de proferir bestialógicos.

d)Bestialógicos: 1-sem nexo, estapafúrdio, asneirento, disparatado. 2- escrito, discurso ou afirmação cheia de absurdos ou asneiras, béstia.
(Houaiss, pág 439)

Que; na literatura, o bestialógico ou pantagruélico, é uma tipo de poesia cujos versos não tem nenhum sentido aparente; ainda que bem metrificados, se utiliza do burlesco, do satírico, do non-sense, do tom grotesco, da poética do absurdo, remontam à sátira menipéia e tem suas sementes plantadas no Brasil pelo poeta Bernardo Guimarães, da segunda geração de poetas românticos.


A idéia central deste trabalho é fazer ver, através da análise dos estudos da fortuna crítica de Augusto dos Anjos; elegendo o de Fausto Cunha, -que é aliás o único estudioso a sugerir a possibilidade de estudos das obras deste dois vates, a partir da perspectiva da bestialogia:

“A interpretação do bestialógico Augustiano como intencional viria colocá-lo num grupo extraordinário, onde já se encontram Artaud e Jarry, e o aproximaria ainda mais de Baudelaire, de Verlaine, de Rimbaud.”(Fausto Cunha- Augusto dos Anjos-Obra Completa, pg 168).

De forma geral e concreta intencionamos, dentro da questão da precocidade, destacar as semelhanças entre ambos no que concerne questões de ordem biográfica, sem explorar os desdobramentos de caráter psicanalítico, por não entendermos ser o intuito deste trabalho.

Trabalho este que foi organizado dentro de uma estrutura não aristotélica e que foge, via de regra intencionalmente, da rigorosidade da escrita acadêmica e científica.

2- Desmistificando o envolvimento

Devemos lembrar- a título de Desenvolvimento- que Rimbaud viveu muito próximo de uma casta de poetas excepcionais; tão próxima que manteve por anos relações homossexuais com o grande poeta Paul Verlaine. E que ainda em Charleville, sua cidade natal, teve a influência do amigo, professor e poeta Georges Izambard, somado a isso temos a ascensão e a “flanação”; ou perambulação criativa, por Paris, em uma época riquíssima de criação artística. Em contra ponto à formação quase que espontânea da poética de Augusto dos Anjos, que teve na figura do pai o Dr. Alexandre, um amante das letras, a única e primeva influência e estimulo. Sobretudo a possibilidade de acesso a jornais vindos periodicamente da Europa com resumos dos mais variados assuntos, incluindo, é claro; poesia. Muito embora ambos perdidos, como tratou Edmund White, um em sua “cidadezinha sonolenta, isolada do grande mundo”. O outro em um engenho decadente no sertão de uma Paraíba do Norte em fins de século. Pontos costuram e descosturam as vidas dos dois poetas, todavia a linha que os une não é uma linha invisível, tem cor opaca, mas não se precisa de muito para percebê-La. Edmund White nos diz em seu Rimbaud -A vida dupla de um rebelde-: O certo é que Rimbaud, mesmo antes dos dezesseis, estava tentando se lançar ao mundo.
Augusto aos quinze, já viajava com freqüência a capital do estado e começava a sua sempre difícil relação com a intelectualidade local.
Vale destacar que Augusto dos Anjos foi um flanêur a sua maneira, pois ao pensarmos que se à época um jovem sair de sua cidade natal para alçar estudo em alguma capital era algo corriqueiro, e ele o fez, indo estudar direito no Recife aos dezenove. Daí a ultrapassar as fronteiras do nordeste de um país continental; se arriscar na “París Brasileira“, o Rio de Janeiro, e assim como Rimbaud, não encontrar apoio, por motivos díspares.

Já em 1870, aos dezesseis, Rimbaud dizia ao amigo Delahaye que iria escrever em uma linguagem nova, inventada: Para criar uma linguagem poética que fale de todos os sentidos, vou pegar palavras dos vocabulários eruditos e técnicos, de línguas estrangeiras, de onde for possível...(White,Edmund)


Não podemos nos furtar de lembrar que essa linguagem nova, técnica e cientificista foi a pedra de torque que a grande maioria da crítica de sua época e muito depois, não cansou de jogar sobre o poeta do Eu.

Entretanto e entre tantos, alguns poucos iluminados conseguiram captar a essência de sua poesia e vemos ainda no ano do lançamento do livro, em 1912, uma das poucas vozes de peso, o ilustre Hermes Fontes, se levantar a favor do poeta:

”É um trabalho de fôlego novo e de feitio moderno”(...)“Todo o livro está cheio de dessas curiosidades, desse alvoroço de idéias novas, harmonias novas, aspirações novas“.(Augusto dos Anjos-Obra Completa, págs 50-51)

Devo ainda citar afirmações do estudo: Origens de uma Poética, de Alexei Bueno, a respeito dos poemas de Augusto; onde diz: “..possuem essa compreensão pós baudelairiana das possibilidades estéticas do horrível que atingiu a poesia ocidental depois de “Une Charogne” (...) De Poe até Baudelaire, depois através de todos os decadentes, de um Richepin da Chanson dês Gueux ou de um Rollinat de Les Névroses, essa audácia poética do afrontamento do terrível, tornado comum na prosa através da análise social dos naturalistas, alcança a poesia brasileira por meio de nossos próprios decadentistas, mais uma prova da filiação simbolista do expressionismo de Augusto dos Anjos. (Augusto dos Anjos- Obra Completa, págs 26-27).

Rimbaud foi considerado o grande decadentista e ainda em Edmund White lemos que se dizia que havia transportado a novas alturas a “nostalgia ignóbil” de Baudelaire e de que era “pertubadoramente difícil de classificar“.

Temos ainda como farinha para nossa massa teórica declarações de um estudioso da envergadura de Álvaro Lins que em seu ensaio “Augusto dos Anjos Poeta Moderno”, afirma dentre outras coisas que:

Se com Baudelaire de quem se costuma aproximá-lo , ele tem em comum o elemento satânico -como estão, no entanto distantes um do outro! Em Baudelaire fundiam-se a preocupação religiosa e a preocupação estética, e o seu olhar, por mais baixo que ele houvesse caído, estava voltado para os céus, como um místico exilado, como um cristão nostálgico. Em Augusto dos Anjos, o naturalismo é o credo, o materialismo é a doutrina, com um sentimento que não ultrapassa o visível e o sensível se não poeticamente, e o seu olhar não está especificamente voltado para os mistérios metafísicos, mas para o subsolo da existência humana(...)Quando se processava sua formação pessoal e literária, o parnasianismo e o simbolismo ainda estavam em plena moda no Brasil(...)Augusto dos Anjos não se enquadrou em nenhuma dessa escolas”(...)Ele é, entre todos os nossos poetas mortos, o único realmente moderno, com uma poesia que pode ser compreendida e sentida como a de um contemporâneo(...)Augusto dos Anjos porém está iluminado por uma projeção de permanente atualidade, que o lança incessantemente para o futuro(...).(Augusto dos Anjos- Obra completa, págs 118-119.)

E ainda a defesa apaixonada de outro grande poeta o maranhense Ferreira Gullar, que atesta em seu ensaio Toda a poesia de Augusto Dos Anjos:

Mas em que me baseio para afirmar que existe no poeta do Eu, elementos que antecipam a linguagem moderna da poesia brasileira? Para responder essa questão, devo primeiramente esclarecer o que entendo por poesia moderna ou nova linguagem da poesia.

O abandono das formas clássicas do poema- a estrofe regular, o verso metrificado, a rima obrigatória-(...) Para conseguir isso, o poeta moderno lança mão de uma série de recursos que constituem as características de sua nova linguagem: construção sintática inusitada, ruptura do ritmo espontâneo da linguagem, choque de palavras e de imagens, enumeração caótica, mistura de formas verbais, coloquiais e eruditas, de palavras vulgares com palavras poéticas, etc.
Alguns destes recurso foram utilizados por Augusto dos Anjos.(Gullar, Ferreira- Augusto dos Anjos, A saga de um poeta.)

Rimbaud foi considerado morto antes de morrer, e antes de ser ou não ser, estar ou não estar, com a publicação “póstuma” do livro: Iluminações, feita por Paul Verlaine, em 1886 , foi saudado como um precursor do Simbolismo, ainda que segundo Edmund White: O mais extraordinário é que em sua breve carreira de escritor, Rimbaud cobriu toda a história da poesia desde o verso latino, passando pelos românticos, parnasianos e simbolistas até os surrealistas, muito antes de existir o surrealismo. Lembrando que ele escreveu toda sua obra entre os quinze e os dezenove anos, e depois literalmente a abandonou, o que reforça a questão da precocidade em Rimbaud, pois mesmo que este tenha vivido, ou sobrevivido mais que Augusto, tendo vindo a falecer com trinta e sete anos, ao passo que nosso vate sucumbiu a uma pneumonia aos trinta anos de idade.

Dentre outras similaridades curiosas e pouco estudadas, há por exemplo, o fato de haverem publicado seus primeiros poemas exatamente aos quinze anos, Rimbaud com seu “A consoada dos orfãos”, na La Revue pour Tous, em 1870 e Augusto Dos Anjos, o soneto “Saudade”, no Almanaque do Estado da Paraíba, no ano de 1900, e mais; a de terem em vida publicado um só livro; o: Saison en Enfer de Rimbaud , em 1873, e o Eu de Augusto dos Anjos, em 1912 . Os poemas foram publicados nos anos seguintes a serem escritos.

E ainda, se não mais importante; o de se cogitar como a origem psicológica da poética de ambos, -e o possível viés psicanalítico deste estudo se estende até aqui- ser um rancor não declarado por suas mães, por terem ambas um caráter severo e tido como ditatorial. Exemplo disso é que especula-se sobre o primeiro grande amor de Augusto, a Srta. Amélia:

Augusto apaixonara-se por uma moça e a engravidara, sua mãe mandara alguns capatazes darem um corretivo na moça que perdeu o filho e veio a falecer. Em outra versão tida da história, ela acabou simplesmente se casando com um rapaz da região dada a proibição do relacionamento por sua mãe.

“Reporta-se a José Lins do Rego, quanto a um depoimento em que o afamado romancista admite haver o poeta escondido ’uma mágoa secreta, um rancor que não confessa, contra a própria mãe’”.

(Filho Antônio Martins, in Reflexões sobre Augusto dos Anjos, Vol. XV da coleção Alagadiço Novo. Acessado em 25/04/2013 às 22:23hrs) .

Não pude comprovar qual é a verdadeira, e mesmo que tenha mantido até o fim de sua vida estreita correspondência com a matriarca, haveria de ter ficado com este ocorrido, mesmo que a simples interdição, eternamente magoado o coração sensível do poeta. Em Rimbaud, podemos dizer a título de ilustração que em seus últimos dias foi praticamente extorquido pela mãe, que comprou terrenos com grande parte do dinheiro que juntou em dez anos de trabalho na África. E que foi deixado pela mãe; aos cuidados da irmã, no leito de morte, pois a mesma tinha negócios a tratar.

Muito se estudou a cerca da influência de Baudelaire sobre a obra anjosiana, é sabido inclusive que ele tinha a segunda edição de Les Fleurs Du Mal, de 1861, encontrada em um sebo paraibano com sua assinatura. Contudo pouco ou quase nada se escreveu em torno das possibilidades de aproximação e ou sequer simples menção a uma possível e direta influência de Rimbaud na obra de Augusto dos Anjos, à exceção de Ademar Vidal ao afirmar que:

“Depois dos dezessete anos entrou noutro regime de leituras, isto é muniu-se de Darwin e Haeckel, Nietzche, Spinoza e Max Nordau, devorando tudo quanto eles escreveram. Rousseau e Renan, os poetas franceses e portugueses, anjos do céu e anjos infernais, Rimbaud e Leopardi, nada ficou sem passar pelos seus olhos, lendo, apreendendo e interpretando com inteligência sutil.” (Vidal, Ademar. O Outro eu de Augusto dos Anjos.)

Os dois poetas guardam inúmeras semelhanças, como por exemplo uma curiosíssima, e que no meu entender prova a filiação inequívoca destes dois poetas.

Em um poema rimbaudiano intitulado H; de Iluminações, lemos na penúltima linha; o verso: L´hydrogène clarteux!, que em uma tradução literal tem-se como : O hidrogênio Luminoso!
Lemos no conhecido poema augustiano, Solilóquio de um Visionário, o famoso verso:
Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...

Vemos aqui uma tradução livre de Augusto, que por uma questão evidente de manutenção da rima, optou por traduzir “Clarteux”, por “incandescente“, palavra que é perfeitamente cabível como opção de tradução à “luminoso” e que se encontra no mesmo campo semântico.

Há ainda outra; se não coincidência, que é com relação ao que Montgomery José de Vasconcelos chamou de quantidade excessiva de exclamações, reticências e travessões na poesia de Augusto. Podemos também observar, sobretudo na prosa poética de Rimbaud um uso “exagerado” ou incomum dos mesmo três elementos. Questão que por muito interessante está talvez mais ligada ao campo de estudo da linguística e que pretendo neste apenas citar como mais um elemento de aproximação estilística e estética. (Montgomery José de Vasconcelos - a Poética Carnavalizada de Augusto dos Anjos- pgs 58-68)

Percorrer este caminho de afirmação da pré-modernidade na poesia de Augusto dos Anjos é não tão somente uma forma de estabelecermo-nos na posição daqueles, que entendem nosso vate como um precursor do modernismo em terras Brasileiras, bem como fundar uma aproximação ainda mais estreita entre Augusto dos Anjos e o por sua vez; precursor do modernismo em nível mundial, Arthur Rimbaud.

E com isso podermos resgatar e conectar a poesia pantagruélica, como uma modalidade de poesia satânica, nonsense e anárquica, difundida no Brasil por Bernardo Guimarães no segundo momento do romantismo, por Cruz e Souza no simbolismo e por Augusto dos Anjos, herdeiro inconteste da lírica de Cruz e Souza; no pré-modernismo.

Segundo o importante estudo Lira Dissonante de Fabiano Rodrigo da Silva Santos:

“Além disso, o grotesco abre caminho para a compreensão da lírica
Brasileira do Século XIX, por um viés diretamente ligado a poética moderna. Isso porque o grotesco- com seus efeitos dissonantes, forma distorcida e exploração de temas marginais- permite vislumbrar em pleno Brasil oitocentista, o desenvolvimento de obras esteticamente ousadas e críticas, relacionadas intertextualmente à tradições européias pouco rastreadas em nosso país em termos de suas reverberações”

Segundo o grosso da crítica mundial, temos em Rimbaud não só um Satanista, talvez e senão maior que Baudelaire, também um anarquista, simpatizante dos communards da época da Comuna de Paris, em 1871. É sabido que ele esteve em Paris poucas semanas antes da insurreição anarco-comunista e que conviveu com os seus dissidentes não só em França, bem como em suas estadas na Inglaterra. Ainda que saibamos que o termo “anárquico” aqui utilizado não está em seu sentido político, mas sim relativo ao seu caráter transformador e inovador. Todavia a poética, e a prosa poética Rimbaudiana, são impregnadas dos elementos do nonsense, do burlesco e do absurdo, criando mundos e situações fora do contexto mesmo das literaturas feitas à época. Sem esquecermo-nos de que os temas marginais e a vida dos marginalizados sempre foram temas caros tanto a Augusto quanto a Rimbaud que beberam um, e se embebedaram, o outro, em temáticas tidas como próprias de uma baixa cultura, ao menos tidas como tais até bem pouco tempo, na linha do desenvolvimento histórico das literaturas românticas ocidentais.

Lembrando que segundo Fabiano Rodrigo da Silva Santos , e a maioria dos estudiosos da história da literatura Brasileira, a tradição da crítica no Brasil sempre colocou o romantismo em destaque na formação de nossa identidade literária nacional, e praticamente todos os movimentos que se seguiram nasceram sob a bandeira de pró ou contra, sendo reações e contra reações, uns dos outros; face ao romantismo.

“Essa cadeia de reações motivadas pelo romantismo denuncia a atuação de um fenômeno cultural no Brasil a partir do romantismo -a modernidade.”(...)Pode-se concluir assim que a modernidade no Brasil extrai suas especificidades estéticas do conflito entre a tentativa de estar em sintonia com as evoluções artísticas das nações que nos servem de modelo e as possibilidades em geral limitadas, de nosso ambiente cultural” (Fabiano Rodrigo da Silva Santos-Lira Disonante-pg24)

Como é sabido e ainda em Fabiano Rodrigo, a influência Francesa foi determinante para o desenvolvimento do romantismo no Brasil, entretanto nossos poetas herdaram dos franceses características mais ligadas ao nacionalismo e ao civismo, não desenvolvendo as características mais contestadoras que o movimento apresentou, e talvez somente a partir de meados de 1850 podemos perceber o surgimento de uma poética de inspiração grotesca, com Bernardo Guimarães, Alváres de Azevedo e Aureliano Lessa, segundo Antônio Cândido em seu ensaio a Poesia Pantagruélica (Cândido, 1993,p.230).

Como atesta o próprio nome -Pantagruel- o gigante glutão, advém do ciclo de narrativas de Francois Rabelais e trata-se de uma poesia que busca no absurdo, no escatológico, na blasfêmia e no grotesco os elementos de sua poética.

Importante destacar que não intencionamos buscar pontos em comum no tocante ao grotesco nos poetas estudados, ainda que existam, estas confluências ficariam para um estudo maior e mais complexo que aqui pretendemos lançar quiçá a pedra fundamental. Podemos entretanto afirmar que ambos tenham se influenciado por sua vez pelas conhecidas baladas grotescas de tradição anglo-germânicas de escritores mundialmente famosos como Rabelais, Goethe e Hoffman. Todavia é inegável que foram sobremaneira influenciados pelo, dentro da tradição moderna; incontornável Baudelaire. Ao transportarmos tais impressões à poesia de Augusto, filiando-o como herdeiro de Cruz e Souza, vemos que a influência do grotesco, ou pantagruélico, de Bernardo Guimarães, neles, segundo Fabiano Rodrigues é de linha completamente diferente, uma vez que temos em Bernardo algo mais próximo do viés cômico e por sua vez burlesco. Nos casos das poéticas de Cruz e Souza e Augusto, temos um grotesco de caráter mais sério, pessimista e introspectivo, com pode-se dizer; um fundo mais psicológico, trágico e próximo do sublime.

Segundo Antônio Cândido:

“O que restou dela(da poesia pantagruélica) é muito pouco, ou quase nada. Tratando-se de um discurso heterodoxo, os seus próprios praticantes não lhe davam importância prática, como advogados, magistrados, funcionários, parlamentares, diplomatas ou simples chefes de família, punham de lado as provas de loucura da mocidade e com certeza destruíram, como fizeram com a poesia obscena, que jamais pensariam em assim assumir, muito menos publicar, o que aliás seria impossível no tempo. Só Bernardo Guimarães, bem menos convencional, guardou, publicou ou deixou reproduzir algumas de suas produções nesses setores condenados. (Cândido, 1993, p. 230)


3- Com oclusão

Como forma de refletirmos Conclusivamente o até aqui exposto, o que este trabalho procurou lançar luz sobre, é acerca das possibilidades de aproximação real e não tão somente sugestiva, da vida e obra dos dois poetas aqui estudados. Sobre bases que vão além da simples menção a possíveis filiações entre ambos. Procuramos demonstrar que existem características e similaridades, primeiramente no que concerne a vida privada, que vão desde inocentes “coincidências“, como a estréia de ambos na literatura na mesma idade de quinze anos. À outras menos pueris como por exemplo, uma possível origem de uma lírica iconoclasta, ser uma espécie de raiva ou desgosto por suas progenitoras. Temos também questões que nos parecem praticamente incontestes no que se refere a influências, a nosso ver, e para tanto não se precisa de muito. Ao percebermos um caso de “quase plágio” lidos nos poema H, de Rimbaud e Solilóquio de um Visionário, onde lemos uma livre tradução de Augusto de um verso de Rimbaud. E finalmente, mas não por fim, questões nítidas de aproximação no que se refere ao artesanato poético em ambos, em que se lêem-vêem um uso pode-se dizer exagerado dos mesmos sinais gráficos, assinalando mais uma vez a proximidade da urgência estética em suas poéticas.

Penso que tenhamos conseguido minimamente sugerir e demonstrar que existem similaridades reais entre tais, e que os desdobramentos possíveis de características marcantes da poética dos vates estudados, são palpáveis e carecem de estudo, espaço para se desenvolverem e incentivos numa faculdade de letras que parece dar muito pouco ar para que estudos de literatura comparada e de literatura pura, possam respirar.

Nosso intuito neste trabalho foi demonstrar que Augusto dos Anjos teve a influência de vários, não tão somente dos
portugueses, Antero de Quental e Cesário Verde, como normalmente se diz, de Baudelaire ou Rollinat, como normalmente se reduz, mas também influência direta de Rimbaud.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS-Reorganizar!-


Um comentário:

  1. Sò à tìtulo de cu riosidade..este trabalho finalizado foi entregue..passei com conceito A(94pontos) na disciplina: Introdução à metodologia de pesquisa científica em literatura Brasileira, no primeiro semestre do ano presente, na Fale-Ufmg..

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