quinta-feira, 20 de junho de 2013

Desencanando minha biblioteca..




Ao escrever uma resenha para disciplina do meu eterno bacharelado em letras pela Federal Universidade das Minas Gerais sobre o ensaio: Desempacotando minha biblioteca- de Walter Benjamin..me vem a mente, e ainda que nínguem tenha me perguntado..a minha própria; humilde biblioteca.

Sobretudo a origem primeva dela!

Biblioteca esta que segundo recente recenseamento possui hoje algo em torno de uns quinhentos volumes, quiçá!? E sinto que é impossível não me comparar, ou de comparar-me ao “herdeiro” que Benjamin descreve já no final do texto, onde diz: A herança é a maneira mais pertinente de formar uma biblioteca.

Meu falecido pai chegou no ápice de seu colecionismo, bibliomaníaco, uma vez que definitivamente, e por ser um diletante em todas as matérias, uma vez que não se aprofundava em assunto algum; a ter, algo em torno de seis mil volumes dentro de apartamentos.

Motivo pelo qual creio que ao se aposentar, e sobremaneira para manter seu casamento, foi se aventurar no maravilhoso e secreto mundo dos alfarrábios, como forma de dar vazão à sua significativa biblioteca e a seus anseios de livreiro enrustido.

Montou na cidade de Formiga, a Vaca de Letras, uma mistura de sebo de livros, revistas, cd´s, vinis -fazíamos cópias inclusive-, antecipando à pirataria virtual!; ladrões avant lettre!, clube de xadrez (aos sábados), galeria e vendinha de produtos de que dispunhamos na chácara..que iam de abacates, acerolas, ovos à escargots e queijo minas..

O sebo tinha tão singular nome por ser localizada numa garagem da chácara em que vim a morar, que se situava entre a casa e o curral.

A "logomarca" habilmente desenhada pelo meu irmão mais velho, artista de plástico, madeira, papel..autor de livros infantis e ilustrador..era uma simpática vaquinha que lia despretensiosamente Os Sertões; de Euclides da Cunha.

Não muito depois a “ empresa” cresceu e montou uma sucursal na Faculdade de Ciências e Letras daquela cidade, passando a representar editoras, encomendando e vendendo livros novos e usados.

Virou uma livraria, a rigor!

Em épocas pré internet, vale lembrar, sobreviveu; diga-se de passagem, até mais ou menos bem. Numa cidade que até então não tinha livraria e que se encontra "agora' órfã das belas letras..desde a época em que ele veio a destituir-se de viver...

Trabalhei com meu pai nos dois anos em que me exilei em Formiga, e para cada livro que vendia, roubava dois ou três, ou mais!

..mas depois do suicídio daquele que me ensinou a amar os livros e a viver a literatura na sua plenitude, bibliófilo de berço; de papel!!!..veio o amarelecimento dos anos e dos papiros..

Herdei o que não roubei, o que não foi doado e o que meus irmãos, um disléxico e o outro analfabeto funcional, não quiseram, ou não compreenderam.

Há neste espólio duas pequenas raridades que me foram dadas ainda em vida: Um Moliére, de 1674 e um Discours de Rousseau, de 1769, brochuras maravilhosamente encadernadas em couro, adquiridas por um primo querido no mais antigo sebo de londres.

Ainda hoje as olho, e um sal agridoce me escorre pelos olhos..e uma pontada percorre como uma flecha o caminho entre o cócix e o coração..

A poucos anos foi fundada em Formiga uma pequena biblioteca, logo na entrada da cidade, que se chama Biblioteca Pública Municipal Osório Garcia.

Saudade da época em que lhe roubava sonhos..

2 comentários:

  1. Em tempo: O Belo óleo sobre tela que veem é
    -O Bibliófilo-, de Carl Spitzweg (1808-1855)

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  2. http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CCwQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.ultimasnoticias.inf.br%2Fnoticia%2Fbiblioteca-osorio-garcia-conta-com-emprestimo-diferenciado&ei=OWbEUaPRLYSS9QTNyYGQBg&usg=AFQjCNESqV2K0H4ULpOuSq9Up-qxAIvJDg&sig2=7ZY8Sw776T8pLcyttuLkDw&bvm=bv.48293060,d.eWU

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