segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Teorias Viajantes: “relato de viagem” em cinco “atos”!?



“As teorias passam, mas as verdades necessárias devem subsistir”–Renan.–

1-“Influxo externo”: da inferência machadiana ao teorema schwarziano.

A primeira inferência que me vem ao tresler o texto indicado de Machado, é a de uma viagem de teoria poética-política que transitou do monarquismo à república, do romantismo ao realismo e da europa para o brasil:

“Na falta de quem conjugue o ideal poético e o ideal político, e faça de ambos um só intuito, a saber, a nova musa terá de cantar o Estado republicano.”

Quando Machado remete a Victor Hugo e Baudelaire transladando-os às nossas terras em um Mariano de Oliveira ou em um Valentim Magalhães não é só sobre a “probidade da justiça” ou em relação direta ou indireta destes ou daqueles ao ideário monarquista ou republicano, naturalista ou romântico, mas sobre tudo expressa dejá a questão da viagem de teoria em nossas plagas.
Lemos destarte, no texto de Schwarz, a questão da “disparidade entre a sociedade brasileira escravista, e as idéias do liberalismo europeu” e define tal, por: “comédia ideológica”. Exemplifica e amplifica a questão ao incluir a proibição constitucional (1824) a pratica do favor, outra das bases do desenvolvimento, para não dizer a base do envolvimento, político social no Brasil, desde então. Refletido, ainda nos dias de hoje, como um sol que nunca se põe.

Ou como quis Sérgio Buarque de Holanda:

“Trazendo de países distantes nossas formas de vida, nossas instituições e nossa visão do mundo e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos uns desterrados em nossa terra”

Devemos levantar proposições correlatas e que foram discutidas por nós em sala de aula a cerca da veracidade e da atualidade destas questões que parecem desde sempre fazer parte de nossa historiografia, uma vez que como atuais ex-escravos, entretanto e entre tantos eternos escravos do neo-colonialismo globalizante que ao nos proclamar homens livres –agregados- nem proprietários, nem proletários, todavia, toda a vida, atarraxados como parafusos ao favor, e a um sistema político econômico, está eternizando as questões estudadas por Schwarz, Maria Sylvia, Machado, Sérgio Buarque e tantos outros a cerca da viagem de idéias dentro e fora do lugar e da viagem de teorias ao Brasil.

Quando vemos índios de havaianas, relógios esporte e qualquer aculturação que o valha – não que devam permanecer isolados, intocados e ‘involuídos’voluntários-, mas mais do que isso a sensação que se ganha, é a de que não foram compreendidos em sua cultura e rechaçados, procuram através de bens materiais se eclipsarem em nós, nos acompanharem numa corrida-caçada por um tempo que, a rigor; a nada lhes serve.

Várias foram nossas abordagens a cerca do tema da viagem de teorias, em sala de aula, discutimos as inúmeras formas que teorias importadas das metrópoles tomaram em nosso país, e a quem ou a quê serviram, ou melhor; não serviram, uma vez que de todo sempre estiveram à favor do liberalismo, do capitalismo, do integralismo, das ditaduras pelas quais passamos, do ‘globalismo’ e, etc. Raramente servindo as nossas necessidades e ou coadunando-se com as ideologias correntes, salvo se pensarmos nas correntes e nos grilhões que ainda nos atam aos interesses estrangeiros e às suas ideologias alienígenas e alienantes.

Vamos tomar como exemplo, exaustivamente trabalhado por nós; a prática do favor.

Não nos é preciso ir muito longe para apercebermo-nos do fato de que ela se enraizou no Brasil de tal forma que passou a ser um tipo de política per si, no sentido de que “nada” pode ser feito fidedignamente no meio, não só político, mas social como um todo, sem a troca de favores de cunho financeiro ou apenas de algum tipo de secessão de vantagens propriamente ditas. Claro é, e pode-se dizer comum, aos seres humanos, ao meio social, basearmo-nos em algum tipo de favoritismo ou de gentilezas que por vezes perpassem, ou mesmo ultrapassem a noção de amabilidade; ou de ética, se tornando uma espécie de moeda de troca. Seria a meu ver, inclusive poder-se-ia dizer, um modelo anárquico, caso permanecesse na condição de permuta, e não se tivesse, como disse, ao cabo, um valor monetário passível de ser contabilizado como lastro.
Oposto exato a universalidade dos princípios, a princípio.

Como definiu magistralmente Schwarz:

“O favor é nossa mediação quase universal- e sendo mais simpático do que o nexo escravista, a outra relação que a colônia nos legara, é compreensível que os escritores tenham baseados nele a sua interpretação do Brasil, involuntariamente disfarçando a violência, que sempre reinou na esfera da produção.”

O teste de realidade a que se refere Schwarz, e que não foi aplicado no Brasil segundo ele, soa em meio a toda essa discussão mais como um choque de realidade, do que qualquer outra coisa, no sentido em que essas práticas foram importadas e assimiladas por aqui em meio a uma realidade muito distinta, ainda que propensa, a tais. E de fato por aqui ganharam um status de política ao passo que nos países europeus, grosso modo, parecem ter sido substituídas pela ética e por leis de mercado que não corroboram com essas linhas de pensamento.

Pode-se concluir então que se trata de uma viagem sem volta.

Relendo “ As idéias fora do lugar”, no trecho específico em que o autor nos diz:

“Assim posto de parte o raciocínio sobre as causas, resta na experiência aquele desconcerto que foi o nosso ponto de partida: a sensação de que o Brasil dá de dualismo e facticio- contrastes rebarbativos, desproporções, disparates, -anacronismos, contradições, conciliações e o que for- combinações que o Modernismo, o Tropicalismo e a Economia Política nos ensinaram a considerar.”

Me pego pensando em aulas onde discutíamos a efeméride Tropicalista que fazia uma releitura ainda mais rasa da antropofagia Oswaldiana, sendo, ao meu ver, um excelente exemplo de disparate, desproporção e porque não dizer sobremaneira: de contraste rebarbativo!, o que não dizer de nosso Modernismo que calha, como a luva com a pelica, no exemplo de anacronismo, de contradição e de conciliações, à um só tempo -se pensarmos que falavam de regurgitar a cultura européia, bebendo Champagne!

Isso sem mencionar que nosso Modernismo, como sabemos, foi um futurismo retrô, um dadaísmo pimpão, e quiça, um surrealismo de um azul claro; desbotado

Quanto a Economia Política, essa serviria como capítulo à parte; e, capitulo em fazê-lo neste esboço, pois não é sequer matéria que sirva a literatura, ainda que a financie, ainda que a contra gosto e ou quando muito; ao gosto da moda.

A mais quando revejo todo esse quadro, que como quis meu querido Augusto dos Anjos: nem Pedro
Américo pintaria, sinto-me no dever patriótico -pan-óptico- de imaginar que ao cabo, todas as nações devem se ufanar do que tem de bom e se afastar do que de pior produziram, como única e inconteste prova de sua real grandeza ou erudição. No nosso caso, suis generis, deveríamos portanto exportar a tecnologia do favor e do escravismo, uma vez que ainda reinam, com outras roupagens; em nossa republiqueta.


2 – Idéias viajam? Roberto Schwarz X Maria Sylvia de Carvalho Franco.

Lido pela terceira ou quarta vez a palavrosa entrevista da aristocrática Maria Sylvia me soou ainda mais indecifrável, como se o que intencionasse fazer fosse manter a escuridão de suas idéias, - no lugar da clareza e da leveza-, por vezes anedótica dos textos, réplicas e tréplicas de Schwarz. Do que inferi e do que discutimos em sala, me parece que ao modo de Bosi, ela quis dizer que, em linhas gerais, As idéias estão, ou estavam à época, no lugar, pois: “tem funcionalidade para a opressão”, ou visto de outra forma, as idéias certas estavam no lugar certo e quem estava errado eram os que persistiam em continuar no analfabetismo, no escravismo e na miséria absoluta, tanto do ponto de vista material quanto, e sobre tudo, do intelectual.

Não faz sentido algum imaginar que, apesar de sim; serem produzidas também socialmente, dizermos que, como fez Maria Sylvia, as idéias não viajam ou que a noção de influxo externo seja superficial ou idealista. Parece me tratar-se mais de um confucionismo, no sentido não literal, -de que uma questão relativa ao difusionismo-, uma vez que é inegável que sim, óbvio, pessoas viajam; vírus viajam; drogas ilícitas viajam; produtos viajam; aviões viajam; trens viajam; barcos viajam; animais viajam, por quê então tão somente as idéias, ou teorias, logo elas voláteis e preenchíveis que são, não viajariam?!

Não consigo encontrar nada na entrevista e nos ditos da professora e no que debatemos a respeito que faça muito sentido. O desenvolvimento mesmo de suas argumentações enfadonhas e que trazem um recorte muito específico – os processos-crime de Guaratinguetá no século XIX, - que segundo Scharwz, mais uma vez não se fundam em relação ao restante, e ao todo da discussão, uma vez que segundo ele são:

“um material ligado ao aspecto mais estático da sociedade brasileira (o homem pobre na área do latifúndio), em que o influxo ideológico da Europa contemporânea não seria um elemento decisivo.”

Vejamos a inadequação dos argumentos da professora em eles mesmos. Já no final da primeira página da entrevista, podemos ler sua observação sobre a noção de resistência à mudança:
“tão frequentes nas teorias científicas e programas políticos de modernização dos países atrasados”, costurando mais a frente à imagem de que a teoria das idéias fora do lugar, são, estas sim, e; mais uma vez: “importadas pelo Brasil dos centros europeus de produção de mercadorias e ideologias”.

Tentando ao meu ler engendrar uma mudança de foco que não se sustenta, pois se imaginarmos que o projeto levado por Schwarz já previa o que ele chama de desajuste, vejamos:
“É certo que atraso e atualização têm causas internas, mas é certo também que as forma técnicas –literárias e outras- que se adotam nos momentos de modernização foram criadas a partir de condições sociais muito diversas das nossas, e que a sua importação produz um desajuste que é um traço constante de nossa civilização. Em perspectiva nacional, esse desajuste é a marca do atraso. Em perspectiva mundial, ele é um efeito do desenvolvimento desigual, e combinado do capitalismo, de que revela aspectos essenciais, donde seu significado “universal”. Noutras palavras, não inventamos o Romantismo, o Naturalismo, o Modernismo ou a indústria automobilística, o que não nos impediu de os adotar.”

A que acrescentaria o comentário, de que ele eventualmente tenha se enganado, uma vez que quanto ao modernismo, este sim talvez tenhamos o inventado, à revelia do futurismo, do dadaísmo e de alguns outros ismos que vinham se sobrepondo na Europa. Isso em uma análise pura e simplesmente etimológica, pois como sabemos o modernismo propriamente dito não existiu por lá, vindo a ter por aqui este nome como uma síntese dos movimentos que citei, portanto e mais uma vez uma importação de um produto que apenas mudamos a embalagem. De todo da maneira que este por aqui se deu, pode sim ser visto e compreendido não tão somente como mais uma prova inequívoca de viagem idéias e de teorias e de sua ex-apropriação como quis Derrida e veremos mais à frente.

Assim sendo, ao meu ver, não se sustenta a idéia estática-estátua, de Maria Sylvia, de que as idéias não viajariam, ainda que me pareçam razoáveis suas afirmações de que as idéias e ideologias são produzidas socialmente. Dados os devidos descontos, lembrando que o positivismo de Comte, condição sine quo non da existência do liberalismo da época persistisse e fosse a ideologia em voga para praticamente todos os atores sociais, do homem livre, livre para ser dependente e agregado ao favor, até ao universo da política. As idéias e ideologias de que ela fala seriam quais afinal, uma vez que se permanecemos no recorte temporal em questão, não vejo qual seria a ideologia e ou idéia produzida socialmente no Brasil da época.

Algumas discussões, ainda que não multilaterais, nos ocuparam no começo do semestre e ainda que faça minha mea culpa, de haver a muitas estado destituído do corpo presente, todavia as das que participei, e que me pareciam mais um monólogo do que propriamente discussão, uma vez que nossos nobres colegas em sua maioria se abstinham de fazê-lo por motivos que desconheço – aqui minto e faço uso da máscara social e do eufemismo, para não tratar do vazio que ecoa nos cérebros de nossa juventude acadêmica-, me foram sobremaneira proveitosas no sentido de aliviar o peso que as afirmações da professora me infligiram no sentido de não as haver compreendido.

Confesso entre tanto desanimado que após tudo isso e mesmo tendo voltado insistentemente ao seu texto, continuo sem compreendê-lo na sua extensão-intenção.

Posso com tudo para findar este tópico voltar àquele que sempre me pareceu mais arrazoado, o professor Schwarz que diz ao cabo de seu texto- entrevista, Cuidado com as ideologias alienígenas:
“Como entre tanto a importação de formas é parte constante de nosso processo cultural, é claro que não basta conhecer o contexto brasileiro. É preciso conhecer também o contexto original para apreciar a diferença, a qual é uma presença objetiva, ainda que um pouco impalpável em nossa vida ideológica. Por isso, a nossa historiografia tem de ser comparativa.”

Ao que acrescentaria que não tão somente comparativa, mas sobre tudo consciente de que somos histórica e cronologicamente posteriores aos países europeus e estaremos inevitavelmente por motivos que vão além de qualquer ideologia, fadados a refletir teorias que por lá venham a surgir. E se me permite, não vejo nisto demérito de nenhuma natureza, caso o façamos a partir de perspectivas locais, experiência nacionais e não nacionalistas.


3-Teorias Viajantes -O fluxo internacional de teorias e a geopolítica do conhecimento.

As 4 “leis” da teoria viajante seriam segundo Said:

1-Há um ponto de origem, e ou o que se parece com um, um conjunto de circunstâncias iniciais no qual a idéia veio a nascer ou entrou em, e ou, no discurso.
2-Há uma distância atravessada, uma passagem através da pressão de vários contextos...
3-Há um conjunto de condições...aceitações...resistências...-e insistências, eu insistiria!-
4-A idéia agora totalmente (ou parcialmente) acomodada (ou incorporada) é em certa medida transformada por seus novos usos...

A palavra incorporada aí escolhida a dedo como opção à acomodada, me remete imediatamente a corporação, as corporações, ao corporativismo, a todo o ideário correlacionado e por sua vez automaticamente às questões de hegemonia neo –colonialistas, e a várias outras decorrentes, quase todas degradantes para o substrato local tanto do ponto de vista cultural, quanto, e; ao cabo, inevitavelmente, dos econômicos a essas hegemonias advindos, e, via de regra; nada bem vindos.
Para concluir essa pequena “introdução” e primeira impressão, retomo o autor que num surto de lucidez, de pronto, declara:

“É óbvio que qualquer abordagem totalmente satisfatória desses estágios seria uma enorme tarefa”
Como o intuito não é se debruçar sobre os textos pura e simplesmente, me dei ao direito inclusive de cortar alguns finais das “leis” enumeradas e de comentá-las muito rápida e descontraidamente, poder-se-ia dizer, corroborando com o que o próprio autor declarou, em alguns de fazê-lo, até mesmo para não entrar em detalhes demasiado, ainda que entretanto agora neste bloco sinto-me mais confortável em fazê-lo, sobretudo por ao reler continuar considerando-os de meu interesse. Vejamos por exemplo na página sete, quando Said após discorrer sobre algumas questões fundamentais acerca da crítica da escola de Yale, que como nos lembrou, Hartman é um dos representantes, junto a Paul de Man, Harold Bloom e outros, conclui dizendo que:

“Na ausência de um domínio delimitador chamado literatura, com claros limites externos, não há mais posição autorizada ou oficial para o crítico literário”

O que pode parecer muito oportuno ou democrático, ou ainda meritocrático, -se o sujeito é bom de argumentos por que tem que ser da área-, se pararmos para pensar na profusão-explosão de críticos de ocasião, literatos de plantão, que transbordam nos dias de hoje entre blogs e redes sociais, sendo segundo o senso comum muito positivo, pois pluraliza as questões, horizontaliza o direito à reflexão, antes engessada em covis pouco luminosos. Por outro lado, lado este em que gosto de me ver, existem-resistem, os literatos, bestas que em meio a toda essa efeméride tecnológica ainda insistem em buscar as fontes, reler no livro, esmiuçar no arquivo físico, espiar e espirrar em bibliotecas e alfarrábios. Espécies em extinção que não tem mais voz, agora que todos tem voz, dizem exatamente o que esse público rasteiro quer ouvir e sobretudo no número de caracteres adequados. Tudo isso, toda essa tecnologia da informação constituem casos de viagem de teoria e de idéias, talvez mais do que nunca, mas a que preço e com qual lastro? Qual destinação? Pensando Derridianamente, em destino à qual nação?, destinado a alguma nação em particular? Derivado de qual reação?Enfim, não finda aí a discussão, todavia entra em um tópico para mais adiante.

Falemos então do tema central da discussão aqui neste texto de Said; Lukács!
Organicidade versus mecanicidade, reificação versus sujeito e idéias estupendas sobre consciência crítica, tais como:

“Postulando um mundo de atuação humana fora do domínio da reificação, a consciência crítica (a consciência que tem origem através da crise) torna-se genuinamente consciente de seu poder de incessantemente derrubar as formas objetivas que conformam a vida do homem”, como da sua tradução.

E segue falando de algo bastante discutido em sala, as questões marxistas em Lukács, e não ficamos “só” nele, passeamos por diversos autores marxistas, citei a celeuma Marx-Proudhon, falamos de vários preceitos da teoria marxista, da base-e-superestrutura à mais valia, da consciência de classe(“ a consciência de classe começa portanto na consciência crítica.”), da ditadura do proletariado, dos efeitos e reflexos do marxismo no Brasil, em Schwarz, e; em nós mesmos.

Talvez o mais importante disso tudo do que conversamos convergiu para a observação que foi incansavelmente pontuada em aula, a da urgência com que Lukács escrevia, o momento político em que ele literal-literariamente se encontrava, e como diz Said:

“-não devemos esquecer que ele está performando um ato de insurgência política. Alcançar a teoria é ameaçar com destruição à reificação, bem como ao sistema burguês inteiro do qual a reificação depende.”

Outro ponto por nsó bastante destacado foi o fato de que o próprio Said enquanto palestino escrevendo em inglês a partir de uma conceituada universidade americana, também performava e personificava a imagem da urgência de pessoas, causas e discursos que tem relação diametralmente direta com questões de hegemonia cultura social e financeira.

Falamos ainda de Goldmann e sua tradução acadêmica de Lukacs, da diferença do que Said chama de um “acadêmico politicamente comprometido” e de um “militante politicamente envolvido”, o que daí resulta em sendo a remoção do caráter insurrecional da teoria de Lukács. Talvez, tenha sido esse o ponto para o qual converge todo esse texto e para o qual convergiram nossas discussões, a do resultado, nesse caso reducionista, de uma viagem de teoria onde ocorreu a catástrofe!

Prezado Mestre, preciso declarar que meu raciocínio (raciosímio?) é muito textual e consigo quando muito discorrer sobre nossas divagações retóricas em sala, tão somente a partir dos textos e numa sequência em que estes me foram surgindo. Perceberá em contra partida que por vezes e ao cabo, faço menções enviesadas a outros bloco por entender que estas ideais não estão de modo algum soltas e que meu passaporte é válido em outras situações e discussões correlatas.

Desnecessário dizer, aí incluso, que perceberá mesmo com grande facilidade as discussões em que efetivamente participei daquelas em que infiro, a partir do texto e do ponto da discussão em que me inscrevi.

O ponto em questão é aquele em que Mignolo introduz sua visão. Falamos de saída do grande mote de seu texto, da marca que, tal qual o influxo externo, ou a localização das idéias, do favor ou da comédia ideológica, define o rumo e o cerne de um pensamento, que em seu caso é tido como: diferença colonial. Tratamos também e destarte das questões relativas à produção do saber e ao seu lugar geoistórico, voltamos impreterivelmente em Said, mas agora o que Mignolo nos incita a pensar é o seguinte:

“Assim sendo, a resposta poderia ser que as teorias realmente viajam e são transculturadas. Tornam-se objetos. Mas o “pensamento viaja?”O “pensamento” liminar (não a teoria) é a questão; “pensar” em uma perspectiva liminar torna-se então, a questão central - quer as teorias viajem quer não.”

Passamos então a discutir, e a pensar, em como essas teorias viajam através, ou, pela diferença colonial.

Mignolo nos ofereça a chave:

“A alternativa é uma dupla crítica, tanto dos viajantes quanto dos residentes: de viajantes e residentes em posições hegemônicas na perspectiva de viajantes e residentes em posições subalternas.”

Explica-nos as questões de subalternidade “interiores” e “exteriores”, e fala de um campo dos “Estudos Subalternos”.

Lembro-me após estas pontuações de que a partir delas nossas discussões se concentraram sobremaneira na hegemonia cultural norte americana e européias, no caso Brasileiro, mais especificamente. Ensaiamos alguns passos em direção ao monolínguismo imposto pela língua inglesa como fator chave para o desenvolvimento de uma questão sócio-econômica intrinsecamente ligada a questões de ordem cultural e ideológicas. Mas sobre tudo nos concentramos no exemplo da viagem da teoria marxista à America Latina e seus desdobramentos. Voltando um pouco ao texto, e: no caso agora, a Enrique Dussel, que Mignolo passa a analisar:

“O ponto de vista de Dussel relativo à inadequação do marxismo para a América Latina e alicerça-se em sua análise do pensamento moderno e do lugar do marxismo nesse paradigma-sobretudo no fato de que o pensamento moderno esqueceu-se da colonialidade:” (Não citarei as palavras do próprio Dussel, pois Mignolo as sintetiza.)

A partir daí nossas discussões giraram em torno dos motivos pelos quais Marx praticamente ignorou, ou não compreendeu a questão colonial, da diferença colonial ou tão pouco, e; mais grave, ao meu ver, da emancipação-revolução Bolivariana.

Não estive presente quando da discussão do pequeno libelo de Neil Larsen, endeusando e explicando, num duplo movimento de adoração e de expiação de culpa, o Teorema Schawrziano e sua “inexplicabilidade”, ainda hoje, nos estados unidos da América; do norte!

Lembro-me, todavia, de parte da discussão voltar-se em outras ocasiões, e o texto deixa isso absolutamente latente, na por sua vez: impossibilidade dos intelectuais norte americanos assimilarem, ou sequer se debruçarem sobre o materialismo dialético Marxista, por motivos que também discutimos, tais como o da guerra fria, indicado no texto e que exemplificastes em sala de aula como, e; em seu desdobramento marcatista, Lembramos da, a partir dos anos cinqüenta, grande influência da ideologia francesa de Foucault e Derrida nos Estados Unidos dos anos setenta, dos estudos culturais e das políticas de identidade dos anos oitenta e dos noventa, até os dias de hoje, como pontua Larsen.


4- Viagem: Destinação e errância - A “destinerância” segundo Derrida.

Começo minha releitura de Malabou e de sua intrincada viagem através da viagem em Derrida, com uma imagem-viagem engraçada que me veio à cabeça ao inferir sobre a derivação (no primeiro sentido por ela tido.) da palavra Deriva [dériver], que ela nos lembra advir do latim rivus, o riacho [le ruisseau]. Pensei, imediatamente, e; para além da sonoridade, diria no mínimo muito próxima, de ruisseau com -Rousseau!-, em um Jean Jacques Ruisseau? Divisor de águas que foi ao distinguir o estado da natureza e do estado social. Bref!

Indo ao ponto, após esta minha deriva (agora no segundo sentido por ela tido.), começaria lembrando dos destaques que elencamos neste bloco, a partir da dúvida que coloquei de saída a respeito da interpretação-tradução de “arriver”, como “aquilo que vem, surpreende ou cai, do acontecimento em geral, daquele que se antecipa como daquele que não se espera”.

De minha parte não esperava encontrar possibilidade de aceitação da interpretação-tradução desta palavra no sentido de cair, tão pouco se forçar a imagem de algo que cai em nossos colos, como a maça de Newton, como quis imaginar. Uma eureka etmológica não me arrivou. Me parece inclusive que a releitura piorou este meu entendimento, que a priori se mostrara possível. Fato é que precisamos pensar com o coração e não tão somente com uma razão pura Kantiana, para absorver o conceito de destinerrância Derridiano, sobretudo para novos marujos recém engajados.

Discutimos sobre algo fundamental na compreensão geral do texto, que é o “acontecimento do estrangeiro” como praticamente obrigatório para que uma viagem possa ser assim compreendida, ainda que, seja este um acaso programado.

“Toda surpresa, toda divagação, toda errância se veem assim inscritas, em verdade, no horizonte”
Falamos então do conceito de catástrofe e de seus desdobramentos para e na metafísica da viagem, como uma imprevisibilidade previsível para que se possa completar o ciclo da viagem e: “não para atentar contra ela, mas antes, para confirmá-la.”, assim como a deriva, como desvio. Firmou-se ai em nós e não só no texto a verdade de que; “a origem não viaja.”, mas: “A viagem arrasta a origem com ela”.!? Sabedor de que a filosofia é feita de paradoxos me absterei de tentar explicar este evidente, se não cego, ao menos estrábico; ponto. Todavia existe outro que já havia questionado em sala, e que me continua, talvez ainda mais, evidente. Ao tratarem da “differance”:

“De uma parte porque a différance ela própria- temporalização, espaçamento, deslocamento incessante da letra e do sentido-, de outra parte, porque nenhuma sedentariedade originária preexiste a ela. Não mais do que a escrita é originária da fala, a viagem é derivada de uma identidade localizável e localizada.”

Se sua origem?!, portanto algo estático, logo sedentária, originariamente falando, ainda que depois possa ser arrastada, mesmo que não viaje!? Enfim, talvez o ponto cego em questão seja tão somente eu mesmo, enquanto leitor não ideal.

E para tanto tratamos do “Caminho de Ulísses”, como o exemplo, talvez melhor, desta: “imobilidade originária”. A Ítaca de Ulísses é sua derivação e sua não derivação. A economia da viagem. Se bem entendi algo, ou possa me dar ao luxo de pensar medianamente, e; Derridianemente.

Em resumo desta confusão primeiramente instalada em nosso cérebro, resumiria citando o texto, de modo a ilustrar/corroborar, como sugerido, o que acabo de sintetizar e tentar entender-descrever:
“A viagem teria a missão fenomenológica de permitir o acesso à presença do outro em geral, de revelar o segredo, a autenticidade dos países visitados e dos lugares explorados, de fazer aparecerem os traços dominantes de uma civilização, numa palavra, de levantar quase milagrosamente, o véu da estrangeiridade.”

Outra questão que me impus é: ainda que eu aceite a proposta de Malabou de: renunciar a determinar um “sentido próprio” e um “sentido metafórico” da viagem na obra de Derrida”, não posso me furtar de pensar que, ao fazê-lo, me fica a pergunta; qual é então e afinal o sentido da viagem em Derrida?, ou mais, desta discussão, salvo é claro como um belo exercício retórico de ampliação dos limites do pensamento cartesiano, que devo admitir ter, sob vários aspectos e em diversas medidas. Talvez a destinerrância seja a chave, ou a trincha-missão que aplaine estas imagens-idéias à princípio, para mim, derivantes e viajantes.

Deri veremos- De gramofones; de cartões postais; de Sócrates a Freud e além.

Voltando para um terreno mais firme nossas discussões entraram na definição do conceito de Destinerrância que me parece absolutamente claro em sendo a eterna possibilidade da catástrofe e da (a)destinação. Falamos sobremaneira, a partir do cartão postal, como algo, uma comunicação aberta, passível de leituras múltiplas, não previstas, e conseqüentes interpretações e inferências outras, e de outros, não metafisicamente falando.

Se a Destinerrância é a única certeza, assim como a morte, corremos todos, já mortos; para a vida?, como se fosse, se não o acontecimento (certeza) da catástrofe, que desse vida-verdade; as nossas vidas?! Me peguei pensando agora, ao relembrar de nossos comentários sobre a passagem do mito do corredor morto, de que nos fala Derrida.

Ao mais, ou ao menos, teci tais comentários, pois é a própria Malabou que nos diz:

“O leitor é livre, seja para empreender uma leitura contínua do conjunto, seja para seguir o fio(de Ariadne) de uma única via, seja para não seguir fio algum e passear aqui e ali, de acordo com seus desejos ou suas pulsões.”

Fiando-nos ainda em Malabou para derivarmos através do cartão postal, já ensejado-desejado, uma vez que é ainda em seu texto que ouvimos falar primeiramente de: O Cartão Postal, como sendo um livro que Derrida não escreveu, nas palavras do próprio autor e por nós em sala discutido, como sendo também uma não história dos correios, até a psicanálise.

Para a necessidade do impossível nada pode ser impossível. Me lembro de que ao discutirmos sobre este texto, eu havia declarado acabar de tê-lo lido, e que havia me soado um primeiríssimo momento enfadonho e calculadamente(teatralmente, acrescento) paradigmático. Agora ao relê-lo pela terceira vez, posso afirmar que continuo achando-o e me defendo com um dos escudos que o próprio Derrrida parece deixar “acidentalmente” no caminho:

“É preciso, caso se prefira, que a inadequação continue sendo sempre possível para que a interpretação em geral, e a resposta, sejam por sua vez possíveis. Eis aí um exemplo da lei que liga o possível ao impossível. Pois uma interpretação sem falta, uma compreensão de si totalmente adequada não marcaria apenas o fim de uma história esgotada por sua transparência mesma. Proibindo o porvir, ela tornaria tudo impossível, tanto o acontecimento quanto a vinda do outro, a vinda ao outro-”

E como quis o poeta: “afora isso eu já nem de mais nada.” A não ser que discutimos ainda sobre a escolha do tradutor, a nosso ver errônea, em traduzir a palavra Hantise, por: obsessão, e não pela na sua literalidade de: Assombração. No trecho seguinte onde Derrida fala da assombração (obsessão) da exceção.como “possível” índice de passagem ou de saída.

De saída, e em relação a este bloco gostaria de dizer que a escolha destes excertos do “Cartão Postal” e “Necessidade do impossível”, em particular do ponto da fala que recortei a cima, casam e encerram em meu entendimento uma compreensão satisfatória, ao menos para mim, de questões por nós discutidas desde o início, tais como a do acontecimento, do outro enquanto estrangeiro e da possibilidade imanente da catástrofe.

Ou ainda nas palavras do próprio autor:

“É preciso, portanto, que o acontecimento se anuncie também como impossível ou que sua possibilidade seja ameaçada.”



5- O direito à teorização de um ponto de vista cosmopolítico- Monolinguismo, tradução, desconstrução.

Este é por razões cronológicas e lógicas o bloco que está certamente mais fresco em nossas memórias, e aí incluo os outros; colegas.

A discussão neste bloco se voltou primeiramente para as impressões que o Autor nos dava de sua propriedade em tratar de assuntos não diretamente ligados a sua área de conhecimento. Lembro-me ainda de destacar um trecho em que ele por sua vez fala do afã literário que incorreram os Antropólogos em determinado momento e da falácia de tal empresa.

Entretanto o cerne da questão tratada por ele neste trabalho é a da hegemonia da língua inglesa, sob as demais, também na área das ciências humanas e naturais.
A partir daí passamos a observar o desenvolvimento e os desdobramentos de tal hegemonia e seus viesses sociais e econômicos.

O termo língua franca, passou a ser o centro da discussão, remetemos ao trecho do texto que nos explica a etimologia do termo:

“O termo é recorrente (língua franca), e recobre toda a literatura que se ocupa do assunto; ele encontra-se geralmente associado ao latim, idioma do saber em outros tempos. A imagem é parcialmente verdadeira, mas encobre algumas incongruências. A expressão “língua franca”não figura nas descrições de nenhuma língua românica, seu surgimento é tardio e data do século XI.”
E explica ainda que, em resumo, ela seria usada como uma língua comum aos cruzados de diversas nações com o intuito de facilitar a comunicação entre eles.

Em seguida direcionamos nossas observações para o que Ortiz chama de proibições no discurso das ciências naturais: O tabu do ego, da narrativa e da metáfora.

Isso dito para nos levar a outro ponto chave de seu texto que é o de como essas questões poderiam ser aplicadas no campo das ciências sociais, que é afinal o seu habitat, e nos colocar de saída, a partir daí, a seguinte questão:

“A construção do objeto sociológico faz-se através da língua, empregar este ou aquele idioma não é algo fortuito, mera sutileza de estilo, mas uma dimensão decisiva na formulação final. O discurso das ciências da natureza justifica-se porque consegue reduzir a linguagem, depurá-la de sua ganga sociocultural, algo impensável no que diz respeito à compreensão da sociedade. Neste caso o inglês não pode funcionar com língua franca, não por uma questão de princípio moral ou de orgulho nacional, mas em virtude da própria natureza do saber constituído.”

Talvez a grande questão em relação a isto se dê, no âmbito da sua distinção, por nós bastante discutidas, entre a posição do inglês não como língua franca, todavia como língua mundial, em detrimento dele como língua global. No sentido de que com tal distinção nos seria possível separar seu caráter sócio-cultural do seu caráter econômico e por sua vez hegemônico.

Outro ponto de grande interesse para estes nossos estudos de viagens de teorias, de uma maneira geral, e para as questões ligadas a este bloco mais diretamente, é aquele em que Ortiz passa da discussão a respeito dos problemas ligados a tradução, para o fato da existência de “tradições intelectuais diferenciadas”.

Observamos pontualmente que até aí nada de muito novo para nós da área das letras se apresentara, entretanto é exatamente a partir daí que se desdobram as colocações sobre a “questão nacional”, fundamentais para o entendimento de toda nossa discussão, desde o princípio. A necessidade do impossível me obriga a citá-lo na íntegra:

“Questão nacional implica um pano de fundo no qual se desenrola todo um debate intelectual na América Latina; discussão que se faz a partir do século XIX e prolonga-se durante o XX, envolvendo pensadores, artistas e políticos. Ela refere-se à problemática da identidade nacional, da construção da nação, da modernidade; nela está incluída a crítica à importação de idéias, o complexo de inferioridade dos países colonizados, assim como os dilemas da modernidade periférica.”

Temos aí interfaces com Machado e seu influxo externo, Schwarz e suas Idéias Fora do lugar, Mignolo e a diferença colonial, a viagem da teoria em Said e; no limite, à destinerrância em Derrida.

Prosseguindo em nossas discussões chegamos aos textos finais desse trabalho, não menos densos, não menos lidos, quiçá melhor absorvidos, pois são realmente inúmeras as questões a serem rememoradas num espaço por vezes pequeno e aí falo do espaço da minha memória e não tão somente o do papel propriamente dito.

Se bem me lembro concentramos nossos entendimentos de saída sobre o lugar de discurso Derridiano, ou melhor; os lugares. Unesco, Magreb, França, E.U.A e etc.
Critiquei a ilusão da visão de que a Unesco fosse uma instituição, segundo ele: “portadora ao mesmo tempo da resposta e da responsabilidade por essa questão.”

E “essa questão”, a saber; é: “O direito à filosofia do ponto de vista cosmopolítico.”
Ou como você mesmo quis, e se entendi direito, uma espécie de direito a teorização, de um ponto de vista monolinguístico, - no caso do português brasileiro-.

E entramos, talvez as pressas já na discussão do conceito de ex-apropriação, de que nos fala Derrida:

“O que acontece hoje, e eu creio nisso há muito tempo, são formações filosóficas que não se deixam encerrar nessa dialética de fundo cultural, colonial ou neo-colonial, da apropriação e da alienação. Há outros caminhos para a filosofia além da apropriação como expropriação(perder a memória própria ao assimilar a memória do outra(sic), uma opondo-se à outra, como se uma ex-apropriação não fosse possível, a única chance possível).”

É verdadeiramente libertário e poderoso o conceito, idéia ou teoria de-da ex-apropriação, pois é ao meu ler uma espécie de desapropriação indébita, onde devolveríamos nosso ponto de vista roubado, aculturado, em nome de uma hegemonia eurocêntrica, “norte americano cêntrica” e quando muito, se pensarmos na polarização mundial à época da guerra fria, “soviéticêntrica”, uma vez que concordo em gênero, número e, sobre tudo, grau com Derrida, ao declarar que nem a filosofia, o direito (estado de direito) e tão pouco a democracia jamais foram responsáveis por uma “única destinação originária ligada à língua única ou ao lugar de um só povo.”

Tais questões foram por você aprofundadas em sala, a partir de seu texto, mais uma vez em relação a uma aproximação-apropriação do não próprio redutível como um dificultador da assimilação e compreensão do monolinguismo do outro, da tradução e da desconstrução.

Falamos a partir desses pontos, e daí ponto a ponto da desconstrução como, segundo Vergani: “a desconstrução é a fidelidade à lei da ex-apropriação”, de uma necessidade de uma tradução ex-apropriadora, pós estruturalista e pós colonial. E seu texto volta, como bom viajante teórico que provou ser, ao desfile de teorias importadas à revelia dos quais Schwarz nos fala:

“Nos vinte anos em que tenho dado aula de literatura assisti ao trânsito da crítica por impressionismo, historiografia positivista, new criticism americano, estilística, marxismo, fenomenologia, estruturalismo, pós-estruturalismo e agora teoria da recepção.”

A tradução ex-apropriadora não pode ser confundida com uma retomada, ou como eu entendi, como uma desapropriação de posses, de uma língua sobre outra, pois o que dizia Derrida sobre sua “única definição da desconstrução”, que seria esta: “mais de uma língua.”

Dentro desse espírito de desestabilização de certezas, seguirei na certeza de não ter certeza certa absoluta-irresoluta, sobre a compreensão, e de compreensão depreendo o tempo necessário para a efetiva deglutição de tantas teoria, tantos teoremas, tantos filosofemas, em um único semestre. Me restando a certeza da incertidude, fica a tentativa.

Voltamos então a discussão para questões ligadas a américa latina, da não posse sequer da nossa língua mãe, que estaria ao meu ler mais para madastra, uma vez que nos foi, em um caso explícito de viagem de teorias, forçada por questões de ordem colonial, pelo decreto pombalino. Sendo então uma questão de perturbação de identidade, como define Derrida;

“Eis, pois uma boa definição para o que está em jogo em Le monolinguisme de l´autre: a performance diferencial de uma “experiência colonial particular” não como afirmação de uma identidade mas como perturbação da identidade: ex-apropriação.”

A maneira de um suspiro final ainda que saia um pouco do âmbito das nossas discussões propriamente ditas, gostaria de fazer um aparte em relação à questão da “dupla fantasmaticidade do português brasileiro”, de que trata na parte final de seu texto, mais especificamente onde diz:
(i)aquela associada à espectralização de um idioma europeu quando de sua “(re)aparição, ao modo da língua materna, num contexto de fala não-europeu; (ii) aquela associada à incontornável irredutibilidade desse idioma-fantasma ao idioma oficial de uma “latinidad” ou “latinoamericanidad” com feições homogenizantes.”

A pergunta que me ganha, é: E não foi o espanhol, idioma “oficial de uma latinidad” também uma “(re)aparição, ao modo da língua materna, num contexto de fala não-europeu?, uma vez que assim como o português brasileiro é um filho bastardo do português europeu, não seria o castelhano, por exemplo, filho bastardo do espanhol?!

Qual é então a grande diferença colonial entre os latino americanos de substrato espanhol e nós?!Enfim-

Para finalizar vou rememorar, também num exercício de refreamento-resfriamento de minhas
faculdades mentais, rapidamente, nossas discussões a respeito do que você quis como “A capitulação antropofágica”.

Lembro-me de sentir certa indignação quando da citação das defesas empreendidas por Haroldo de Campos quanto ao que seria nossa razão antropofágica-autofágica, uma filosofia genuinamente brasileira, que seríamos ao cabo de um “nacional por devoração’, como quis genialmente.

É quando fala então mais claramente do equívoco Oswaldiano que ao deglutir-deduzir-destituir o português de uma interioridade absoluta ou uma alteridade absoluta: “e sim, na verdade, um vínculo materno/filial, ainda que, por assim dizer, bastardo: exprimem-se em “português brasileiro”, em tupi, ainda que fosse o tupi dos jesuítas. Por exemplo.

Caso clássico de idéias fora do lugar e de viagem de teorias onde ocorreu, se não catarse: catástrofe.









Um comentário:

  1. Ensaio escrito para disciplina Estudo Temáticos Literatura Comparada -Teorias Viajantes- (Schwarz, Said, Derrida), segundo semestre de 2013, e que foi mal aceita pelo doutor-professor. Julgo que julgado pelas críticas, tirei metade do valor total..Fica o registro!

    PS: Falta instalar o Abntês!
    ( 'A falta'-Discurso Antilhano..)

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